As operações de Fusões e Aquisições (Mergers & Acquisitions – M&A, em inglês) no setor do agronegócio ganham cada vez mais destaque, refletindo a dinâmica de um mercado em constante evolução, impulsionado pela inovação tecnológica e pela necessidade de atender a uma demanda global crescente.
O capital investidor nacional neste setor é expressivo, o que demonstra que o Brasil tem capital interno disponível e que os investidores brasileiros estão cada vez mais sofisticados.
Segundo a consultoria KPMG, tal movimento é liderado pelos setores de fertilizantes, sobretudo biológicos e organominerais, e de açúcar e etanol, com sete operações registradas no primeiro semestre de 2024, representando um crescimento de 133% em relação ao ano anterior.
Como sabido, o Brasil destaca-se como um dos principais produtores e exportadores de alimentos globais, beneficiando-se de sua vasta área de terras cultiváveis, além de uma diversidade de climas e terrenos que favorecem o cultivo de uma ampla gama de produtos agrícolas.
No segmento de grãos dentro do setor do agronegócio, o Brasil figura entre os gigantes globais na produção e exportação, ultrapassando 300 milhões de toneladas na safra de 2022/2023, um crescimento de cerca de 18%, impulsionado por inovações tecnológicas e melhorias genéticas.
Dando destaque ao mercado de sementeira, embora ainda não evidenciado nas pesquisas de ranking de transações, este vem se tornando atrativo alvo nas operações de M&A, diante do estímulo da produção agrícola pela demanda por alimentos. Referido setor inclui desde sementes de flores, frutas, vegetais até grandes commodities como soja, sorgo, milho e trigo, constituindo alicerce que sustenta economias ao redor do mundo. Sem mencionar a produção de sementes forrageiras, utilizadas na formação de pastos e alimentação dos gados.
Sementes de alta qualidade são essenciais para sustentar a produtividade e a competitividade dos produtos agrícolas, nos mercados local e internacional, e, quando somado à alta demanda (quantidade), requer ainda pesquisa genética e novas tecnologias, inclusive para viabilizar o alto rendimento e desenvolver defensivos para resistência às pragas e às mudanças climáticas.
O crescente interesse de investimentos no ramo está especialmente focado em mercados regionais com alto potencial de vendas e atuação consolidada, inclusive para entrada em novos mercados geográficos e em regiões emergentes com alto potencial de crescimento agrícola; bem como na diversificação de portfólio, atendendo a uma gama mais ampla de necessidades agrícolas.
Vale destacar que este mercado ainda está muito fragmentado, o que significa dizer que há espaço para consolidações, viabilizadas por transações de M&A.
A expectativa é que empresas locais sejam progressivamente absorvidas por entidades de maior envergadura. A regionalização acaba se tornado um fator crucial para um negócio de sucesso neste segmento, em razão das peculiaridades em relação à altitude, clima, pragas e outras variantes que impactam diretamente na produtividade.
Recentes movimentações no mercado demonstram apetite e confiança no mercado das sementeiras, como a Joint Venture operacional entre Latina Seeds e Sementes Santa Fé e aquisição da Sementes São Francisco pelo grupo Pátria.
Importante destacar que as negociações nas operações de M&A desta natureza devem dar enfoque em determinados pontos centrais, como, por exemplo, no que se refere ao plano de desenvolvimento de biotecnologia e melhoramento genético visando aumentar a produtividade agrícola e resistência.
A retenção de talentos especializados também é ponto determinante, especialmente se tratar-se de um investidor que está mirando diversificar seu portifólio, não detendo de know-how imediato para garantir a prosperidade do negócio.
A proteção de patentes de sementes geneticamente modificadas e tecnologias de cultivo e a observância à contratos em vigor de parceria ou arrendamento rural igualmente merecem atenção neste tipo de transação.
Ainda, o setor agrícola é altamente regulado, exigindo conhecimento específico para observância da legislação aplicável, além da aprovação do CADE também poder ser exigida, especialmente em jurisdições preocupadas com a concentração de mercado.
Ademais, preços de commodities, fatores climáticos (ie. falta de chuvas e temperaturas elevadas), incidência de doenças e da mosca-branca podem afetar expressivamente a negociação do preço da transação atrelado à valoração da empresa, o que requer uma assessoria financeira e jurídica especializada.
Diante do exposto, é evidente que as operações de M&A no setor do agronegócio, especificamente no nicho de sementeiras, emergem como um vetor estratégico crucial, como resposta às questões atuais, pavimentando o caminho para um futuro agrícola mais produtivo, sustentável e resiliente.